sábado, 11 de julho de 2009

4- Curiosidade

No dia seguinte Yasmin não apareceu na escola. Foi assim até que a semana terminasse.


Tentei saber o que tinha acontecido, mas só sabiam dizer que era por motivos de doença, poderiam ser mais vagos? Eu não tinha real interesse, apenas curiosidade, então deixei pra lá.


Cada dia que se passava conseguia ser mais chato do que o anterior. Júlio e Leonardo, já não agüentavam mais o meu mau humor. Nem eu aguentava.


Não quis sair no final de semana; qualquer quebra de rotina parecia uma luz no fim do túnel para mim.


Mais uma segunda-feira chegou, dia nove de março de 2009. Antes de sair de casa não seria capaz de imaginar que algo poderia mudar nos meus dias, a partir de hoje.


Mas isso não significa que seria uma mudança agradável, apenas era uma mudança.


Cheguei cedo ao colégio. Fiquei num canto à toa, observando os outros alunos. Nada de Yasmin ainda.


Meu tédio era tão grande que estava até abrindo um dos livros da escola. Parei de folhear quando ouvi os alunos mais agitados.


O motivo do agito me surpreendeu, mas não muito. Era Yasmin.


Parecia curada, seja lá do que teve. Só que estava mais séria do que o de costume. Foi na direção das líderes de torcida.


“Meninas...”, antes dela continuar a falar Sally gritou seu nome e quase a sufocou num abraço.


Depois foi a vez da Raquel, nem conseguia falar de tanta surpresa e alegria.


Mais abraços, todas resolveram cumprimentar Yasmin assim hoje.


“Soube que estava doente...”, Raquel dizia esperando uma confirmação de sua amiga.


“É... Estava”, Yasmin não poderia ter sido mais fria do que foi.


“Tive bastante tempo para pensar sobre tudo e não vou mais participar da torcida”, completou Yasmin. Agora até eu fiquei curioso pelo motivo.


Um doente recentemente curado, geralmente, voltaria mais afetuoso, com saudade. Ela parecia ainda mais séria e misteriosa. Não preciso dizer que todas ficaram espantadas com aquela decisão.


“Mas você sabe que todos os alunos devem participar de pelo menos um clube até dia primeiro de abril, não sabe?!”, Chloe com um preocupação estranha. Não deve se importar com a saída da capitã.


“Esse não é o problema, Chloe!”, Raquel mais agitada que irritada.


“Yasmin, porque tomou essa decisão? As meninas não vão mais criticar a sua liderança”, Raquel deve ter imaginado que a discussão da semana passada foi a causa disso tudo.


“Não vão mesmo... Eu pensei muito sobre isso, agradeceria se entendessem. E sobre o clube vou procurar algum. Não precisam ficar preocupadas. Agora, se me dão licença, tenho mais algumas coisas para fazer”, Yasmin falava com indiferença.


Mal terminou de falar e saiu.


“Yasmin...”, Raquel mais parecia pensativamente triste do que chamando a amiga.


“Se ela tomou essa decisão é porque é a melhor...”, Sally também parecia estar pensando alto.


Sally perdeu a mãe num acidente de avião quando tinha apenas cinco anos de idade.


O pai vive longe, em “viagem de negócios”.


Foi nesse mesmo acidente que Jack perdeu o pai.


A mãe dele só esperou um ano e já estava casada com meu pai.


Meu pai e a mãe dele me adoram.


Mas tratam o Jack como se fosse uma visita indesejada.


Eu não gosto dele, mas não chego a tanto, apenas não falamos um com o outro.


Jack cuida de Sally e Yasmin faz o mesmo.


Jack é mais dedicado a essa “profissão”, são vizinhos ainda por cima.


Já Yasmin é mais autoritária com Sally. Como uma mãe mais rígida. Tenho certeza que qualquer um vê isso. Talvez, por isso, a maioria das pessoas tenha a tendência a tratar Sally com se fosse alguma criança.


Não sei se ela se importa. Ela só parece se importar em ter a companhia de Jack e Yasmin. Claro que também tem as suas paixonites... Bem, isso já é mais volúvel.


Foi o tempo do meu pensamento, o que não tardou, que levou Sally para sair de onde estava e ir atrás de Yasmin.


Não pude ouvir, por causa da distância; dessa vez realmente queria ouvir. Fiquei curioso para saber o motivo daquele comportamento.


Yasmin parecia ainda séria e fria no início da conversa com Sally.


Então, Sally fez algum tipo de discurso, pela demora, depois começou a implorar alguma coisa a Yasmin, fazendo uma cara tão triste que acho que até eu teria cedido a seja lá o que ela quisesse.


Yasmin ficou mais suave com a amiga no mesmo instante.


Pelo visto vou ficar sem saber o motivo do que aconteceu hoje mais cedo.


No caminho para a sala, da primeira aula, uma garota desastrada esbarrou em mim e derrubou todos os livros que ela segurava. Ajudei no impulso.


Ainda estava com a cabeça longe, imaginando em uma forma de acabar com aquele meu mau humor.


No intervalo, comprei mais um milhão de porcarias. Acho que se não fosse pelo treino diário com o time de basquete, já teria virado um adolescente obeso.


Meus pensamentos foram interrompidos por uma voz que já era muito conhecida por mim.
“YASMIN!!! YASMIN!!! YASMIN!!!”, Sally gritava pelo refeitório. Agradeci a Deus quando ela parou de gritar.


Yasmin estava do lado de uma garota, eu acho... É mesmo uma garota. A tal garota usava um óculos horrível... Bem, ela, completamente, destoava da beleza de Yasmin.


Acredito que mesmo sem os óculos não mudaria a minha opinião. Algo na postura dela, não sei explicar, mas não ajudava faze-la parecer bonita.


Enquanto observava a garota, Sally saiu de perto delas irritada. Yasmin deu de ombros. Não deve ter sido algo sério.


Quando saia da escola, vi as três reunidas no portão principal como se nada tivesse acontecido. Na verdade pareciam até alegres. Vai entender...

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