sábado, 21 de novembro de 2009

34- Recomeçar

Podia ter sido o cão que fosse por toda a minha vida, mas nada disso justificava o tratamento que recebia da Mariana. De quantos outros foras eu iria precisar para entender que eu e ela nunca seriamos um casal? Ser idiota tinha limite e o meu gritava.


Voltei a minha atenção completamente para Kate e assim foram passando os dias. Já não sabia o que acontecia com a vida da Mariana e não me importava, de verdade. Acho que de alguma forma transformei todo aquele carinho em indiferença.


Era mais outro sábado dia vinte e sete. Faltava menos de uma semana para que Kate viajasse. O tempo passava com muita pressa e o que eu sentia pela Kate aumentava da mesma forma.


Os pais dela não estavam em casa, por isso permitiu que eu a visitasse. Vestia apenas uma camisola e estava sentada no sofá de seu quarto.


Assim que me viu abriu o seu belo sorriso e veio apressada em minha direção.


Abraçou-me como se não nos víssemos há anos, sendo que tínhamos nos visto no dia anterior na escola.
“Está tudo bem com você, Kate?”.



“Deixa de ser bobo e me conta os seus planos de férias.”, disse voltando a sentar-se. Férias... Como eu poderia pensar em diversão com a Kate em outro país?!
“Então você vai mesmo...”.



“Você sabe que sim, Cott... Já no dia trinta...”. Só no próximo ano voltaria a vê-la de acordo com os seus planos. A verdade é que eu sempre soube que um dia ela se afastaria.


Não me arrependia de um minuto sequer ao seu lado. Mas tinha algo de que eu me arrependeria caso não fizesse naquele exato momento. Viver arrependido não combinava comigo.
“Kate, tem algo que quero te dizer faz algum tempo...”, era difícil encontrar as palavras certas; não havia planejado aquilo.



“Não tem uma vez em que eu esteja ao seu lado sem querer te beijar... Mais do que isso, Kate... Não existe outra pessoa nesse mundo que me deixe tão feliz quanto você. Me sinto tão bem ao seu lado... Como se fosse certo estar com você... Como se fosse não, é certo, eu sei que é. Não sei como vou ficar sem você...”, não consegui falar mais. A imagem da Kate indo embora me destruía.


Kate pulou no meu colo num abraço forte e carinhoso. Ainda lembro-me do seu coração com batidas aceleradas próximo ao meu.


“Cott, você é tão bobo e confuso. Eu vou sempre te amar, sabe?! Acho que vou sempre olhar pra você e sentir o ar faltar... E sei que um dia você vai encontrar a garota que te amará como você merece...”.


“Talvez em outra vida eu seja essa garota, Scott e talvez tudo dê certo entre a gente... Mas não nessa vida, Scott, não nessa. Mesmo que um dia não tenhamos mais essa amizade tão linda...”, Kate não era do tipo de chorar em momentos como esse, mas podia perceber o quanto estava sendo difícil para ela continuar a falar.


“Mesmo que um dia ela deixe de existir, Scott... Nunca me esquecerei de você e do quanto foi perfeito o tempo que passamos juntos.”.


Ela saiu do meu colo e ficou de pé.
“Vou me arrumar num instante e vamos sair. Tenho pouco tempo em Primavera e quero aproveitá-lo com você! Prometo que não demoro.”, com o mesmo sorriso lindo de sempre. Como ela conseguia?



Não levou quinze minutos e estava arrumada. Passamos o dia em vários lugares da cidade. Sem tristeza, já com muita saudade, mas aproveitando cada segundo ao seu lado.


Passamos assim os dois dias seguintes. Esqueci de cobrar o seu repouso, mas também não fizemos nada que exigisse demais dela.


Assim que levantei da cama no dia trinta, fui apressado para a sua casa. Não fui à aula. Queria aproveitar mais aquele tempinho antes da sua viagem. Fiz como sempre fazia: passei pela porta que nunca era trancada, subi as escadas e fui para o quarto da Kate.


Ela não estava lá e em nenhum outro canto da casa. Nada de pais. Nada de empregados.


Não tinha o que fazer naquele lugar sem a Kate. Saí de lá e voltei para a minha casa. Foi quando o telefone do meu quarto tocou. Era ela.


“Sabia... Se você sair agora ainda pega o segundo horário, Scott.”.
“Segundo horário?!”.



“Não se faça de desentendido. Não pense que só porque estou longe que você pode matar aula. Trate de se arrumar agora mesmo e ir!”.


“Sim, senhora!” ela não quis despedida e de certa forma nem eu queria e essa ligação era um ‘me desculpe por isso’ da Kate.


Fiz a vontade da Kate e fui para a escola.


Podia não ter dado certo as coisas entre eu e a Mariana... Podia não ter mais a presença da Kate... Mas nunca serei capaz de agradecê-las por terem me mostrado um mundo que vai além de popularidade e noites no ClubMix.


Os meus dias, que até então giravam ao redor da Mariana e da Kate, precisariam de um novo rumo. O que eu queria?! Apenas sentir cada dia, cada noite... Sentir a vida e aproveitá-la.


Como eu faria isso?! Não tinha a menor ideia, mas descobriria...


sexta-feira, 20 de novembro de 2009

33- Incurável

“Você é um ridículo! Tinha que tratá-lo daquele jeito?!”, isso respondia a minha pergunta anterior.


“Desculpa, mas não resisti. De que lugar você tirou esse sujeito? Gostei dele... Muito útil...”, soltei mais risadas.


“Não acho a graça. Só quis que o conhecesse, porque duvidava de mim. E é bom que você veja... Ele sim é um namorado perfeito!”.


“Esse aí?!”, ri mais um tanto antes de continuar. “Espero que você não se canse com ‘tanta perfeição’.”.
“Até parece!”.



“Você gosta mesmo dele?”, não era da minha conta e mesmo assim...


“Mas que pergunta é essa?! Sou completamente apai...”. Não deixei que terminasse de falar, puxei a Mariana pela cintura e a beijei. Não devia ter feito aquela pergunta em primeiro lugar, porque a resposta só poderia ser uma que eu não iria aceitar.


“Ficou louco de vez?”, disse assim que se afastou.


“Não diga que é apaixonada por aquele lá depois de corresponder ao meu beijo dessa forma!”.


“Eu te odeio!”. Ela me deixava distante de qualquer rastro de razão. Roubei mais um beijo seu, esquecendo do plano inicial de distanciamento.


“Aff!”, foi o que disse após corresponder mais uma vez ao meu beijo.
“Nem diga que me odeia, enquanto espera que eu a beije novamente.”.



“Você é mesmo um convencido!”. Não entendia como ela era capaz de estar com aquele sujeito e fugir tanto de mim, enquanto cada beijo seu dizia o quanto queria estar comigo.


Ela saiu da minha frente e foi até o seu namorado. Falou alguma coisa com ele e saíram.


Kate estava certa, eu não podia ‘dar um tempo’. Ainda mais agora vendo a Mariana com outro. Imaginar o que podia estar acontecendo entre eles... Saí furioso do ClubMix naquela noite.


O dia seguinte era um sábado. Não conversei com a Kate. Não era justo continuar a incomodá-la com esse mesmo tema. Ainda era manhã quando fui até a casa da Mariana.


Ela estava subindo as escadas da varanda e eu me apressei. Ela se assustou comigo e me recebeu com um grito.


Os seus pais ouviram e gritaram de dentro da casa, querendo saber o que tinha acontecido, se ela estava bem.
“Não foi nada! Daqui a pouco eu entro.”, gritou em resposta.



“O que você tá fazendo aqui?”, disse bem baixinho, mas invocada.
“Ontem você me perguntou o que eu queria de você... Vim responder mais uma vez.”.



“Eu amo tudo em você, Mariana. Absolutamente tudo. Amo você mesmo quando briga comigo sem justificativa. E ainda pergunta o que eu quero de você!”.


“Eu quero tudo, Mariana. Quero que pare de fugir de mim. Quero que largue aquele... O Luan. Quero que fique comigo e você?”, não deixei que me respondesse de imediato por medo de que arrumasse mais outra desculpa.


“Respondi a sua pergunta. Agora vou esperar a sua.”. Dei um beijo no canto dos seus lábios e saí.


Kate não gostava que eu a visitasse quando os seus pais estavam em casa, por isso me contive apenas em conversar com ela pelo telefone. Esforcei-me e consegui não contar nada sobre a Mariana. Menti e disse que tinha me divertido no dia dos namorados.


Ela me contou sobre o quanto estava sendo uma tortura ficar trancada o dia inteiro em casa apenas com a companhia da enfermeira. Achava graça, mas a compreendia, nisso éramos exatamente idênticos.


Na segunda pela manhã, dia quinze de junho, já não agüentava mais de ansiedade pela resposta da Mariana. Sabia que só tinha passado o domingo, mas isso não diminuía a minha ansiedade em nada.


Eu conversava com a Kate, quando avistei a Mariana com o Luan. Fiquei a observando, esperando que me visse.


Quando os seus olhos me encontraram, não tive a resposta que tanto desejei. Ela meneou com a cabeça e voltou a atenção ao seu namorado.


Eu podia ser devagar pra entender muitas coisas, mas não precisei de ajuda naquele momento. Ela me recusou novamente. Mas também seria pela última vez.