21- Desabafo

Fomos até o seu quarto e contei toda a tragédia.


“Ela tá com medo, Scott. Só precisa se manter firme. Com o tempo isso passa.”, como ela podia estar tão segura?


“Já não sei mais o que fazer. Toda vez parece que consigo piorar as coisas ainda mais.”


“Sem drama. Ela também está apaixonada por você. Ela te empurrou quando a beijou? Não... Mas ela fez isso com o Ítalo. E ele é um pedaço de mau caminho...”


“Me lembrar disso não ajuda muito, sabe.”. Ela riu.


“Sorry. Só acho que você está fazendo tempestade num copo d’água. Não desiste que vai dar tudo certo.”
“Espero que sim...”


“Ei, já havia notado das outras vezes, mas nunca comentei. Seus pais nunca estão em casa...”


“Ah. Sei lá pra onde eles tão sempre indo. Gostam de viajar, só isso.”, parecia esconder algo de mim.
“Hum...”.


Depois de um tempo em silêncio.
“Kate, ela é boa demais pra mim. Acho que ela nunca vai... Quer dizer, ela não pode sentir por mim o mesmo que sinto por ela.”.


“Scott, pode parando por aí! Tenho certeza de que ela só disse as coisas que te disse por não te conhecer de verdade. Porque se ela te conhecesse, Scott... Um pouquinho que fosse... Não teria como ela preferir qualquer outro.”


“Olha pra você. Você é um sonho, cara. Você é muito mais e nem se dá conta disso...”, Kate falava mais alto do que o de costume.


“Não sei o que seria de mim sem você, Kate. Agradeço de coração. Vivo te perturbando com as minhas doideiras. Na verdade, não tenho como agradecer.”


“Acho muito bom mesmo que reconheça.”, brincava.


“Você acha que eu não devo me afastar? Mesmo ela tendo me pedido isso tantas vezes?”, meus pensamentos voltam sempre para a Mariana.


“Eu não acho nada. Você que tem que ter certeza. Afinal, você quer ou não quer essa menina?!”
“Eu quero mais que tudo...”


“Então já sabe o que fazer. Você já deu espaço a ela por tempo demais, Cot. Um mês!!”, Kate falava, mas eu já começava a ter dificuldade em manter os olhos abertos.


“Você tá um bagaço. Descansa...”.


Se ela falou mais alguma coisa não sei, todos os meus sentidos foram dominados pelo sono.


Senti Kate perto de mim. Não sei quanto tempo passou, mas apesar de ainda não ter forças para abrir os olhos, a minha mente já havia acordado.


“A Mariana só pode ser uma doida. Como teve coragem de mandar você se afastar?! Eu busco forças para isso o tempo todo e nem sei por que... E em vez de me afastar, me aproximo ainda mais. Nunca esqueço o dia em que você esteve aqui pela primeira vez... Sei que não significou nada pra você, mas pra mim...”.


Eu não conseguia abrir os lábios, tentava emitir som, mas meu corpo não me obedecia. Talvez eu ainda estivesse dormindo.


“É muito doloroso ver o quanto está apaixonado pela Mariana. Saber que isso te faz mal e não poder fazer nada... Jamais te faria mal, Scott. Por mais doloroso que seja saber que isso é o máximo que posso ter de você, a idéia de não ter nada, nem isso, dói imensamente mais.”


Como aquilo poderia ser fruto da minha imaginação?! Mas, também, como poderia não ser?! Eu forçava abrir os olhos e não conseguia.


Ela suspirou.
“Pronto! Já me sinto bem melhor.”