16- O vilão ou o mocinho?

“SCOTT...”, o Leo tinha que aparecer.


Eu e Mariana nos afastamos no mesmo instante, mas acho que ele viu o beijo.


“Er... Desculpa aí. Não queria atrapalhar o casal...”
“Não somos um casal!”
“Não funcionou de novo, Scott? Acho melhor mudar o seu plano...”


“Nunca mais se aproxime de mim! Já disse! E eu tenho um namorado!”
“Ahm?!”, ela falava sério?


“Não preciso provar nada a você. A minha próxima aula é nesta sala. Saiam, por favor. Se não saírem até prefiro perder a aula.”.


Saímos. Mais uma vez sem palavras.


Tentei sem sucesso prestar atenção no restante das aulas. Só conseguia pensar no desabafo de Mariana, do beijo e depois dela dizendo que tinha namorado.


Pensei que a minha situação já estava complicada o suficiente com Mariana, mas enquanto os alunos saiam da escola percebi que as coisas podiam piorar e pioraram. Eu estava me apressando entre os alunos para alcançar a Mariana.


Então Kate me para.
“Scott, queria me desculpar por ontem. Eu tive alguns problemas pra resolver, por isso demorei tanto. Só que quando procurei por você... Já não estava mais lá...”, ela queria uma explicação.


Eu estava mais concentrado na expressão da Mariana que me viu com Kate. Ela balançou a cabeça e saiu sem mesmo esperar as amigas (como sempre faz). Queria chamar por ela, mas tinha platéia... Travei. Eu queria mudar, de verdade, mas mesmo assim... Descobri que colocar em prática era mais difícil do que imaginava.


“Er... Comecei a me sentir mal...”, disse a primeira coisa que pensei. Mas então por que não foi a verdade? Por que não disse que fui ver Mariana? Mariana estava certa em se afastar de mim.


Kate disse mais algumas coisas e até ria, não prestei atenção. Minha cabeça estava muito cheia.


Passei à tarde em casa, não quis ir ao treino.


Ela falava sério quando disse sobre ter um namorado? Se for verdade... Eu vou fazer de tudo pra tirar esse cara do caminho... Não. Mariana não gostaria disso... Mas...


Pensei que fosse ter que fazer mais força para conseguir dormir, mas eu realmente estava muito cansado. Acabei tenho um sonho, na verdade mais pareceu um pesadelo.


Eu era algum tipo de monstro e corria atrás da Mariana.


Estava prestes a fazer mal a ela quando o ‘outro eu’ apareceu.


Ele tinha a minha aparência, mas eu só conseguia sentir-me sendo o monstro.


E o ‘eu bonzinho’ saía com a Mariana deixando o ‘eu monstro’ caído no chão, derrotado.


Despertei nesse momento.


Eu não era uma boa pessoa. Nunca fui. Nunca encontrei motivos para ser diferente. Mas agora eu queria ser. Não quero fazer mal a Mariana. Só queria poder estar com ela... Eu podia ir até a casa dela agora.


Mudei de idéia quando me lembrei do quanto agora ela deveria estar querendo distância de mim. Fora que o treinador começaria com algum interrogatório pela minha falta de hoje.


Fiquei pensando em quanta sorte Mariana tem. Amigas de verdade, pais que se preocupam com ela... Agora tudo o que eu queria era poder conversar com alguém. Ter alguém para me ajudar. E eu não tenho ninguém.


Vendo como os pais dela são e comparando com os meus, senti muita inveja. Meu pai gosta de ter um filho no time de basquete, inteligente, ótimas notas... Sempre que me encontra sobram elogios e incentivos.


Mas não nos encontramos muito. E com Gabrielle é da mesma forma. Se eu deixasse o time de basquete, se minhas notas não fossem tão boas... Seria tratado como o Jack é?


Devia ser mais difícil para ele. Pensei no quanto deveria ser ruim ter uma família que não gostasse dele. A própria mãe...


Mas ele tem Sally. Uma amiga que o entende e se preocupa com ele. Alguém com quem conversar.


Nunca poderia ter uma conversa com grau mínimo de seriedade com Leo ou Túlio.


A porta do meu quarto abriu, mas não me lembro de ter ouvido alguém bater.


Era Kate.