A sala era maior do que imaginei. Elas, com certeza, tinham feito algo por lá, digo, não parecia uma simples sala de clube.
Tudo bem que os alunos adoram deixar as salas diferenciadas e por isso acabam exagerando... Mas aquela sala... Elas capricharam.
Quando deixei de vagar o olhar pela sala, vi uma garota sentada atrás de uma mesa. A mesa dela ficava de frente para a porta e atrás dela tinha a outra parte da sala.
Aquela não era a Mariana. Era a garota azarenta que passou a andar com Sally e Yasmin. Aquela garota empolgada, mais cedo, deve ter ouvido o nome errado... Ou, talvez, Mariana estivesse lá, também. Era uma possibilidade que não podia deixar de lado.
Fui mesmo querendo evitar a tal azarenta. Ela não tinha percebido a minha entrada, que ‘ótima’ recepcionista, pensei.
“Oi...”, precisava da atenção dela.
Ela quase caiu da cadeira quando me ouviu. Levou um dedo até os óculos, para arrumá-lo e olhou para mim.
Quando ela me viu ficou envergonhada e abaixou a cabeça novamente. Perguntava-me qual era o problema das garotas com essas vergonhas desnecessárias.
“Deseja fazer uma ficha?”, ela perguntou falando tão baixo que levei um instante para entender.
“Na verdade, gostaria de saber o nome das pessoas que participam deste clube.”, precisava ter certeza de que a Mariana participava dele.
“Oh... É... Eu, Sally Carter e Yasmin Campbell.”
“Hum... Só vocês três?”. Já estava acreditando que a Mariana tinha sido fruto da minha imaginação, porque nunca a encontrava.
“Sim. Apenas nós três. Tem um quadro, perto da porta, com os nossos nomes e um breve resumo do que fazemos.”, ela disse apontando, mas não ousava olhar para mim; não me importei.
Não estava interessado no que elas faziam, então não fui até o quadro.
“Obrigado.”, apesar da palavra, não pareceu com um agradecimento, já que eu estava muito irritado para ser gentil. Ela não respondeu, mas se tiver respondido não ouvi.
Fui até a porta, mas sem querer meus olhos passaram pelo quadro, que ficava bem do lado da porta. Aquilo só podia ser uma brincadeira desagradável... O nome da Mariana Vasconcello estava lá.
Fiquei parado de frente para a porta, com a mão na maçaneta, olhando para aquele quadro. A garota atrapalhada foi bem clara quando me disse que só ela, Sally e Yasmin participavam do clube. Mas se eu estava lendo bem, o nome da Mariana estava lá, então tinha alguma coisa errada. Voltei até a garota.
“Com licença...”, nada amigável.
“Você me disse que só você, Sally e Yasmin participavam do clube, mas no quadro vi que tem mais uma... Mariana Vasconcello...”, continuei.
“Mais uma? Não. Só nós três. Está certo.”, ela parecia não entender o que eu dizia.
“Qual é o seu nome, garota?”, ser gentil estava além das minhas forças. Ela finalmente olhou para mim, parecia irritada. Atrás daqueles óculos horríveis percebi um olhar familiar.
Antes que eu pudesse fazer as minhas conclusões ela respondeu a minha pergunta.
“Eu sou a Mariana Vasconcello. Qual é o seu problema? Não sabe ler ou é retardado? Se não vai fazer nenhuma ficha sai logo e para de encher a minha paciência.
Eu teria respondido alguma coisa, mas com tanta surpresa não fui capaz. Ela era a Mariana, realmente. Aqueles óculos disfarçavam e com ela sempre se escondendo não tinha como ter notado antes.
Agora a outra surpresa era aquele comportamento... Ela parecia tão frágil e delicada. A grosseria não combinava com ela.
Ela ficou me encarando, esperando que eu saísse, imagino. Para onde tinha ido parar aquela menina tímida de pouco antes? Não tinha nenhum traço que sugerisse vergonha em sua expressão, agora.
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