26- Cada vez mais confuso

Conversar com a Yasmin não foi tão horrível quanto havia imaginado, apesar dela ter repetido umas mil vezes para eu não agir feito um idiota.
Conseguia não detestar completamente a Yasmin, justo por ver a amizade sincera que tinha pela Mariana.


Ela disse algumas coisas que eu não deveria fazer e as coisas que seriam boas que eu fizesse. Escolheu um lugar que combinasse comigo e com a Mariana para um encontro. Eu podia ver em cada gesto o quanto estava sendo difícil para ela estar ali me ajudando, mesmo assim lá estava ela.


Não seria pelo clube, tenho certeza de que a Yasmin se preocupa mais com a amiga... Caso a Mariana não tivesse concordado com tudo isso, eu podia até comunicar á direção que a Yasmin não trairia a amiga.


Claro que é um exagero afirmar que tenho certeza, mas é algo que posso dizer pelo pouco que conheço a Yasmin.


O encontro ficou marcado para o primeiro sábado do mês, dia seis.


Assim que saí daquela sala fui direto para o ginásio, onde as líderes de torcida ensaiavam. Estava desesperado para poder compartilhar com a Kate aquele dia.


Aproveitei para dar uma olhada nas garotas enquanto dançavam, não podia perder aquela vista. Notei algumas novatas, naturalmente lindas.


Mas era difícil encontrar alguma que fosse mais linda do que a Kate. Vê-la com aquela roupa de animadora de torcida me trouxe algumas lembranças da primeira vez que fui até a sua casa. Foi estranho sentir aquele desejo de beijá-la novamente.


Assim que ela me viu, abriu o seu lindo sorriso e veio apressada na minha direção.


“Scott Meyer, por aqui. Essa é uma novidade! Já vi que faltou o seu treino hoje...”, comentou enquanto me abraçava.


“Fui ao clube SOS hoje...”, não sei se foi o cheiro de seu cabelo ou se foi a forma tão alegre e espontânea com que ela me recebeu, mas o meu coração começou a bater mais acelerado. Aquela sensação estava me deixando completamente confuso. O que aquilo queria dizer?


“Cot...”.


“... Desculpa, Kate. É... Acho melhor a gente se ver depois. Não quero atrapalhar o seu ensaio e tenho algumas tarefas que preciso fazer...”, foi um desculpa mal feita e sabia que Kate perceberia, mas não consegui pensar em nada melhor. Tornou-se urgente a vontade de sair dali, tomar algum ar.


“Ah, sim. Tudo bem. Se cuida, ta?!”, ela me conhecia tão bem... E sempre fazia tudo muito mais fácil. Despediu-se e voltou ao ensaio.


Fiquei na piscina de casa, refletindo. O que eu sentia pela Mariana? O que eu sentia pela Kate? O que eu faria? O que eu queria? Foram algumas das perguntas que me atormentaram.


Eu não tinha dúvida de que era louco pela Mariana e de queria estar ao seu lado. Mas e quanto a Kate? Não tinha como pensar na possibilidade de não tê-la por perto...


... Ela era a minha única amiga e depois aquilo... O que eu senti no ginásio quando a vi não foi nada parecido com algo que um amigo sentiria.


Com a Kate tudo parecia sempre tão certo e perfeito. Eu queria estar ao seu lado e fazê-la feliz, mas não da mesma forma que eu queria a Mariana... Pelo menos não até aquela tarde.


Todas aquelas perguntas continuavam sem respostas e a única pessoa que poderia me ajudar a respondê-las, era a que eu menos deveria procurar para isso.


Passei boa parte da noite nadando e tentando não surtar.


Como se não bastasse também pensava constantemente sobre a solução que a Kate havia tomado sobre a sua gravidez. Sobre os seus pais nunca estarem em casa. Sobre raramente ver algum empregado por lá...


Kate não gostava de falar sobre si. Ela era tão extrovertida que às vezes eu custava a acreditar no quanto ela era capaz de ser misteriosa. Ela me conhecia mais do que eu mesmo, poderia dizer sem medo, enquanto eu mal sabia interpretar o que ela dizia com todas as letras.


Nunca fui um observador, nem bom com enigmas, e Kate forçava demais o que eu menos podia cobrar de mim.


Assim que saí da piscina encontrei alguém que menos poderia esperar...


... Alguém que não gostaria de encontrar. O que Sally fazia ali?